domingo, 29 de abril de 2012

                                                   Rad Feaal


Apesar de estarmos aqui há um certo tempo, foi a primeira vez q fomos ver um filme 100% egípcio na tela do cinema, e que experiência!  A escolha foi inusitada, pelo menos para mim: um filme policial com direito a assassinatos em série e tudo. Nunca tinha imaginado um filme policial egípcio e, em meio as comédias muito populares por aqui, era uma boa oportunidade para matar a curiosidade e treinar o árabe ao mesmo tempo.

Lá fomos nós, sessão da uma da tarde, sala quase vazia, o cinema muito bom apesar de gelaaado por causa do ar condicionado...o filme começa. Imaginem  uma novela mexicana transformada em filme policial...pois é, acho q não dá pra definir melhor o estilo do filme carregadíssimo de cenas super dramáticas. Tudo parece tão forçado o tempo todo, as cenas de violência bem enfatizadas com direito a closes no sangue jorrando. No final só conseguíamos definir o filme com uma palavra: Brega. Mas fiquei pensando, poxa se para nós o Egito é a definição do brega  então o filme era na verdade muito bem feito. É inacreditável as coisas  que só se vê por aqui. As roupas super brilhantes com estampas de personagens da disney e os bichinhos de pelúcia que apesar do calor, muitas pessoas, homens e mulheres, insistem em colocar nos bancos do carro? Só vendo em foto para acreditar! E tão dramáticos que são o tempo todo, inclusive na língua. 

Tirando a brincadeira, o filme pareceu bastante estranho sim, mas acho que seria injusto dizer simplesmente que ele era brega ou  mal produzido e com maus atores. Nem me sentiria bem em criticar um cinema que, com pelo menos 4 filmes em cartaz, é bem mais produtivo do que o brasileiro. O problema na verdade é que, apesar de assassinato ser uma coisa séria, as diferenças culturais provavelmente não permitiram que nós entrássemos na história do filme. Cada cultura tem suas maneiras de se expressas, suas caras e bocas particulares e 9 meses não foram suficientes para que nós incorporássemos a expressividade egípcia e fossemos capaz de nos identificar com ela, por isso o drama do filme não nos comove do modo que deveria e em certos momentos o suspense chega perto de se tornar comédia.

Mas enfim....a experiência está super recomendada. Americanizados que somos, acho que não faz mal entrar em contato com outras culturas. O nome do filme é Rad Feaal (o que significa reação em árabe), mas não saberia dizer se está disponível para download ou algo assim. De qualquer maneira fica a recomendação... 

terça-feira, 10 de abril de 2012



Há muito tempo não escrevo, muito tempo mesmo, mas as vezes ficamos tão paralisados diante de acontecimentos  que nosso cérebro simplesmente congela e qualquer manifestação se torna impossível.

Não cabe aqui me aprofundar em ocorridos passados que pouco ou nada interessantes, digamos apenas que, assim como o Egito, fui arrebatada por uma revolução cujos rumos tive pouco sucesso em controlar. 
Digamos também que ambos (eu e o Egito) pouco sabemos do nosso futuro, mas nos agarramos às nossas certezas e desejos trabalhando pouco a pouco pela realização de nossos sonhos. No entanto, as vezes tudo o que resta é esperar o final de um ciclo necessário quando, por vezes, tudo parece estar perdido.

Tirando essas divagações, tenho um pedido a fazer: por favor não me perguntem muito nem esperem de mim uma análise da situação ou da revolução egípcia apenas porque eu cá estou. Estar perto dos acontecimentos ou mesmo em meio a eles não necessariamente quer dizer que você entenda exatamente o que está acontecendo e essa foi uma lição preciosa que eu aprendi. Num mundo onde a informação é acessível a grandes distâncias praticamente em tempo real, mas tão pouco confiável, fica difícil ter certeza do que acontece até mesmo debaixo da sua janela.  

Além disso,  não só devido a minha falta de conhecimento e experiência em assuntos políticos, mas em se tratando de Egito, onde desde há muito tudo tem lá seus significados ocultos, não tenho a audácia, ou mesmo a coragem de tirar muitas conclusões, pelo menos não por enquanto. Vimos sim muita coisa, passamos por outras tantas; sou capaz de compartilhar por exemplo que experimentamos diariamente a tensão que está no ar e que parece se intensificar a cada incidente, a cada ação da SCAF ou do exército e com a proximidade das eleições presidenciais. Nas ruas, mais e mais comentários sobre ações da Baltagya, uma espécie de força oculta que, de acordo com os interesses do governo ou sabe-se lá interesses de quem, é responsável por causar confusões com o objetivo de desqualificar a revolução. Bem, pelo menos é isso o que se diz...

Nesse jogo de poderes de proporções mundiais interesses se misturam. Irmandade muçulmana, Salafistas, o exército, os liberais, cristãos, muçulmanos, a Baltagya...é, não é fácil. Como se eleições já não fosse naturalmente complicadas, o grande número de candidatos e falta de conhecimento das várias agendas por parte da população não ajudam nada. Enfim, o que resta é esperar e em Maio inshalá testemunhar mais um capítulo histórico da revolução.