terça-feira, 27 de setembro de 2011


Quinta-feira, calor e sol como sempre, nada melhor do que comprar passagens de ônibus e partir em direção ao Mar Vermelho! Seis horas de ônibus separam a capital Cairo da cidade litorânea Hurghada, mas quando se pega a estrada de dia e pela primeira vez o tempo passa voando pois há muito para se observar da janela.
Nada de viajar com galinhas e morrendo calor, como num filme B sobre viagens no oriente médio; o ônibus era confortável, com ar condicionado, banheiro e até lanchinho, isso porque compramos a segunda classe mais barata (que curiosamente se chama primeira classe rs) sem arrependimentos.

Ao sair da cidade, após um grande cemitério, o primeiro que vejo desde que cheguei aqui, experimentei uma sensação incrível ao me deparar pela primeira vez com um deserto, e posso dizer com certeza que a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que o deserto é a concretização da palavra NADA. Enquanto olhava para aquele monte de areia e pedra que se estendia até o horizonte de todos os lados, fiquei imaginando duas coisas por um bom tempo: primeiro, beduínos e seus camelos transitando por aquele ambiente inóspito (e foi a primeira vez q eu pude ter a dimensão do que essa palavra realmente significa) séculos atrás e todas as dificuldades que deviam enfrentar e, segundo, o que faríamos se o ônibus simplesmente quebrasse ali e tivéssemos que descer naquele mar de poeira...rs

Falando em mar, o momento mais bonito do trajeto é certamente quando aquele imenso nada seco, sólido e marrom se transforma em um nada líquido e de um azul impossível de descrever. É um momento de fato muito curioso porque a partir de um certo ponto da estrada pode-se ver ao longe uma faixa azul, que você adivinha se tratar do mar, e de repente parece que o deserto some e a estrada vira um caminho estreito entre o Mar Vermelho a esquerda e montanhas a direita. Passado uma placa onde se lê Suez Traffic,  encontram-se vários resorts, a maioria em construção,  e um enorme e  incrível hotel construído de forma a meio que acompanhar as curvas das montanhas. Como se não bastassem as belezas naturais e arquitetônicas que nos distraiam durante a viagem, ainda fomos brindados com um grupo de golfinhos que nadava muito perto da praia. 





Hurghada foi fundada no começo do séc XX e até alguns anos atrás não era mais do que um vilarejo de pescadores, mas hoje em dia conta até mesmo com um aeroporto. O turismo por lá é realmente intenso e, dentre outros, o que mais se encontra lá são turistas russos. Na verdade, visitantes russos são tão frequentes que há muitos letreiros de lojas e placas escritas em russo, o que é muito inusitado, na minha opinião.  

Ficamos hospedadas no centro da cidade no apartamento de um amigo. Isso mesmo, nada de resorts chiquérrimos para nós, afinal somos meras estudantes, mas posso dizer que ficamos muito bem acomodadas e quase sem custos. Ir para a praia, no entanto, é outra história. A orla é totalmente ocupada por hotéis de forma que se é obrigado a passar por algum deles para entrar nas praias e por isso se tem de pagar um taxa de mais ou menos dez reais, mas pelo menos fica-se bem instalado pois a taxa dá direito a usar os guarda-sóis e espreguiçadeiras super confortáveis do respectivo hotel. A praia em que ficamos era um delícia, o mar azul, com águas calmas e transparentes e apesar de lá estarem mulheres completamente cobertas e de véu, não nos sentimos constrangidas por estarmos de biquini, já que a grande maioria das pessoas eram turista, a ponto de nos sentirmos praticamente em um balneário em alguma parte da Europa.  

Enfim, foram dois dias muito bem aproveitados debaixo do sol, estendidas na areia, tomando banhos de mar....Mas como todo fim de semana acaba, sábado a noite estávamos de volta ao Cairo prontas e revitalizadas para o começo da semana ^^  

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Enfim começaram as nossas aulas! Estávamos ansiosas para a nova rotina, a nova escola, novos professores e colegas de classe. O primeiro dia foi na terça-feira e não podemos dizer que ele começou muito bem, não tínhamos qualquer informação sobre onde ir e o que fazer e acabamos perdendo o começo da palestra de abertura das aulas. Mas tudo bem, superamos. Em seguida foi a vez da prova escrita e da prova oral, nada muito difícil, mas que misturado com o nervosismo se tornou uma grande batalha entre cérebro e sistema nervoso. O segundo dia começa com a aula de Imprensa Televisiva e o grande pânico. Sabíamos que a escola era francesa, mas não achamos que íamos precisar tanto assim do francês. A aula foi ministrada metade em árabe e metade em francês e, claro, a grande maioria dos alunos são franceses e aqueles que não o são, sabem falar a língua. A nossa única vantagem é a grande proximidade entre o português e o francês, sendo assim, podemos entender o contexto da conversa. Passado o susto e depois de algumas aulas, podemos perceber que o curso será bem puxado e cansativo, mas como é bom voltar a estudar! E agora, mais do que nunca, a língua árabe penetra em nossa mente por todo e qualquer lugar que passamos, estamos há exatos 1 mês e 6 dias em Cairo e já percebemos a diferença que isso nos fez. É um aprendizado completo, de mente e corpo, e tudo em árabe! Mas, como ninguém é de ferro, essa semana demos uma escapada em plena quarta-feira para jogar conversa fora com os novos amigos, falar um pouco de português e um pouco de inglês. Mas, como realmente ninguém é de ferro, decidimos não fazer isso muitas vezes, afinal a noite cairota passa voando e no outro dia o nosso celular com certeza não se esquecerá de despertar!

sábado, 3 de setembro de 2011

                                             Estrela solitária sobre o Nilo (passeio de felucca)

Um mês no Egito! Como bem disse a Jaque,  passou rápido, mas ao mesmo tempo parece que estamos aqui há meses pelo tanto de coisas que já vivemos. Por vezes já relembramos o terror que foi a primeira noite sozinhas em um lugar completamente estranho e paramos para contemplar como nos sentimos diferente agora. Já nos movimentamos com facilidade dentro do nosso bairro e no centro da cidade, nos sentimos em casa  agora e isso é muito bom!
Essa última semana foi bastante agitada para nós. Domingo e segunda foram dias dedicados a renovação dos nossos vistos e, mais uma vez, tivemos que ir ao odiado Mugama.  Pelo que pude perceber, trata-se de um prédio onde se encontram vários setores burocráticos do governo e é simplesmente o prédio mais louco que eu já vi, nós detestamos esse lugar, principalmente porque depois de 5 vezes tentando conseguir um visto de estudante, não nos deram senão um visto de turista válido por 3 meses. Para se ter uma idéia da precariedade do lugar: o procedimento padrão é deixar o passaporte antes do meio-dia num guichê e voltar dentro de uma ou duas horas para buscá-lo. Até ai normal, no entanto, quando se volta para buscar o bendito passaporte não há senha e você só sabe que o seu está pronto pois uma funcionária de dentro do guichê grita a nacionalidade do documento que ficou pronto e você deve se aproximar para conferir se é o seu. Saudades do poupa tempo...hehehe
Mas como prova de que de situações desagradáveis podem sair consequências positivas, graças a moça que gritou "Brasil" com meu passaporte na mão, fui interpelada por um brasileiro que também ali estava.  É muito engraçado como estrangeiros se acham e se unem, a identificação vem muito rápido. De qualquer maneira, conhecemos muitos estrangeiros e nativos nos últimos dias e foi muito legal para nós, que só tínhamos visto a cidade com pessoas que quase não falavam inglês (o que sim, é legal pois somos forçadas a falar árabe), sermos conduzidas pela cidade por pessoas com quem realmente podíamos  conversar. Desde então nossos dias  tem passado bem mais rápido, com direito a passeio de felucca no Nilo.
Com certeza comemoramos muito bem o fim do Ramadã, mas por aqui nem tudo é festa durante o Eid el-ftr, o feriado que marca o fim do período de jejum. As pessoas saem em massa para as ruas afim de comemorar e, apesar de vermos muitas famílias fazendo inocentes piqueniques a beira do Nilo, o clima geral é de uma agitação sem regras e sem limites. A quantidade de homens nas ruas intimida e muitas mulheres até mesmo deixam de sair as ruas durante os dias mais agitados da festa. De fato, em uma ocasião em que esperávamos nosso amigo perto da praça Tahrir e em frente a um restaurante bem movimentado, um grupo de cerca de 7 garotos que aparentavam uns 12 anos de idade tentou nos cercar, entramos depressa no restaurante e felizmente nada mais grave aconteceu, no entanto a experiência serviu para nos mostrar que a sensação de que o assedio nas ruas aumentara era na verdade um fato. Dias depois nossa professora nos contou que o assédio durante o Eid é um problema grande e a causa disso ela atribui ao fato de que muitas pessoas das regiões mais pobres do Egito vem para o centro e ao verem mulheres não usando véu ou usando roupas diferentes acabam se comportando de maneira no mínimo inconveniente para nós mulheres....Mas morar num país diferente e conhecer uma nova cultura significa também lidar com os aspectos negativos, temos bastante consciência disso. Cairo é com certeza a cidade mais bonita e mais feia em que já estive e, como bem disseram nossos novos amigos, viver aqui é transitar entre o amor e o ódio o  tempo todo.
P.S.: Para as pessoas que me perguntaram: o nome de quem redige o texto vem ao final do post.