domingo, 28 de agosto de 2011

O Cairo é bege! Tudo por aqui tem aquela cor de areia, o que me parece muito apropriado. Provavelmente a segunda coisa que reparei é que todos os prédios parecem velhos e há de fato prédios que devem ser antiquíssimos, mas o curioso é perceber que até mesmo os prédios novos ainda em construção tem um estilo que remete  ao antigo. O gosto por "coisas velhas" não para por ai. Em volta de onde moramos há inúmeras lojas de antiguidade, o que para mim foi uma surpresa muita agradável e terei que tomar cuidado para não acabar voltando com um container para o Brasil! Além disso, a maior parte das lojas de móveis que vimos vendem mobília que parece antiga apesar de ser nova.
A cidade é sim inteira da mesma cor, mas isso não significa de modo algum que ela seja monótona do ponto de vista arquitetônico. Qualquer um andando distraidamente pela rua pode acabar tropeçando em prédios incríveis e que estimulam a imaginação. Foi o que aconteceu conosco quando durante um passeio de reconhecimento às margens do rio Nilo, nos deparamos com uma  construção gigantesca e muito bonita.

Gastamos vários minutos em frente dessa fortificação tentando imaginar o que ela seria e depois de uma pesquisa descobrimos que se trata de um palácio construído pelo príncipe Mohammed Ali Tewfik no começo do século 20 que hoje em dia se transformou em um museu o qual planejamos visitar logo logo. O nome é palácio Manyal e parece ser um destino um pouco ignorado pelos turistas, pelo menos pelos brasileiros, pois não há muita informação sobre ele em português.

Cairo é uma cidade tão surpreendente que nesse mesmo dia, continuando nossa caminhada ao longo do Nilo, encontramos um lugar onde quase que se pode esquecer a loucura dos carros e pessoas na rua. Na margem do Nilo oposta àquela onde fica o palácio Manyal se pode andar por um calçadão extremamente agradável onde árvores formam arcos sobre nossas cabeças e fazem com que quase esqueçamos o clima árido da região. Por lá há bancos nos quais se pode sentar para admirar a calma com que o Nilo corre, praticamente um oásis de tranquilidade no meio da cidade absolutamente frenética.

A vida noturna da cidade também tem aspectos que são curiosos para duas paulistas acostumadas a ter escuridão como sinônimo de assaltos e violência. Aqui as pessoas ficam nas ruas até bem de madrugada, boa parte do comércio permanece aberta mesmo após a meia-noite e ninguém parece se preocupar muito. Mas mais surpresas ficamos quando vimos os caixas automáticos que ficam na calçada mesmo! Não é como em São Paulo em que temos que entrar naquele quadrado de vidro, eles ficam direto na rua e isso parece não ser problema.

Fazer compras também é bastante diferente. O Cairo apesar de ser uma cidade enorme conserva alguns aspectos que, para a paulistana que sou, parece coisa de interior. Por exemplo, é pouco recomendável comprar frutas e legumes no supermercado pois nas ruas aqui e ali há barracas que tem tais produtos de uma qualidade melhor e mais frescos. Além disso, também há lojas que vendem frango e lojas que vendem carne. Não são como os açougues aos quais estamos acostumadas. A proposta é comprar os produtos realmente frescos e por isso na loja de frango, por exemplo, há frangos vivos que são mortos na hora para o consumidor. A preocupação com alimentos frescos por aqui parece grande e no supermercado há também grande oferta de alimentos orgânicos o que eu acho bem legal e me da a impressão (não comprovada cientificamente rs) de que estou comendo menos química junto com os alimentos que consumo. 
Enfim, certamente a cidade ainda nos reserva muitas surpresas pois apenas começamos a explorá-la, então aguardem.....   



sexta-feira, 19 de agosto de 2011


Cena:
- Vamos para a praça Tahrir? (professora)
- Para quê? (eu)
- Para a revolução! (resposta obvia).
Minha cara de perplexidade contrasta com a expressão de animação da minha interlocutora, que participou dos momentos mais tensos da revolução. E lá fomos nós, meio sem saber o que esperar, para a famosa praça Tahrir. No caminho o movimento nas ruas parecia maior do que o normal e havia muito mais estrangeiros do que costumamos ver. Chegando na praça, a cena e o clima eram muito diferentes do que a palavra revolução poderia me fazer imaginar: palco montado, muitas pessoas lá em cima (crianças inclusive) e um moço com um violão e um microfone cantava musicas de um estilo bem pop (coisa que eu não tinha ouvido até então pois aqui se ouve muita musica árabe de um estilo que me parece mais tradicional), o primeiro comentário ante a cena por parte da Jaque foi: nossa parece a Bahia! rs . Na rua em frente ao palco uma multidão formada por homens, mulheres, crianças de colo, jovens, velhos, jornalistas, vendedores ambulantes, enfim, todo tipo de gente, seguravam bandeiras e acompanhavam em coro as musicas que, pelo pouco que eu pude entender, celebravam a revolução e relembravam os desejos populares ainda não atendidos. Tal multidão contrastava com o cordão humano ao fundo formado pela policia para impedir a entrada na praça em si (estávamos todos na rua).  Ao show de música pop se seguiu um de rap e por ultimo dervixes rodopiantes coloriram o palco, o clima era, em geral, de grande ecumenismo. Por falar em ecumenismo, ao final dos shows três curiosas figuras desfilaram juntas ao redor da praça. Depois fui informada que eram chefes islâmicos e cristãos demonstrando em conjunto o apoio às reivindicações da revolução.
Durante os shows o clima nacionalista era gritante, todos seguravam bandeiras, usavam pulseiras com as cores nacionais ou traziam pinturas no rosto ou nos braços, até mesmo a Jaque teve o braço pintado! (confira no facebook o video rs). Enfim, sem dúvida, para nós que nunca presenciamos mudanças radicais no nosso país, foi uma experiência muito enriquecedora e apesar de as agitações do começo do ano terem, num primeiro momento ameaçado nossa viagem, hoje nos sentimos até sortudas de podermos presenciar momentos tão bonitos como aquele na praça Tahrir. 

sábado, 13 de agosto de 2011

Depois de mais de um ano de planejamento, depois de superar a arrumação das malas, a depressão pré-viagem, as despedidas e umas 17 insuportáveis horas de voo, aterrissamos no Cairo na noite do dia 03/08/2011, uma quarta feira. Desde então já se passaram dez dias nos quais experimentamos emoções variadas. No primeiro momento em que ficamos sozinhas no nosso novo apartamento, um ano simplesmente pareceu um tempo insuportavelmente infinito e achamos que não iriamos conseguir passar mais de um dia por aqui. Para piorar a situação: não tínhamos internet nem TV. Mas nada como uma boa noite de sono depois de horas sem dormir para afastar o desânimo e já começamos nosso primeiro dia nos sentindo bem melhores.
Falando em TV e internet, 10 dias sem essas duas queridas foi uma experiência no mínimo interessante, apesar de muito irritante também. Percebi como o tempo voa quando sentamos na frente da televisão e agora não sei se valorizo mais todo o tempo, já que perdi muito dele assistindo programas idiotas na TV, ou se valorizo mais a TV por me ajudar a matar horas que as vezes parecem simplesmente não passar. De qualquer forma, o ponto alto de sentir falta de televisão é ter saudades até mesmo do Faustão! Quem diria....ainda bem que a partir de hoje voltamos a ser pessoas conectadas com o mundo, graças a Vodafone!
Enfim, no decorrer desses 10 dias já fizemos muitas coisas por aqui. Conhecemos o centro super borbulhante, enfrentamos o trânsito maluco, conhecemos o museu, aprendemos a comprar comida e até já tivemos aulas de árabe num café super VIP frequentado por artistas e jornalistas, além de experimentar comidas e conhecer pessoas é claro! 
Sim, há dias ruins, momentos ruins e é claro que sentimos falta de absolutamente tudo que deixamos para trás, mas no fim das contas só que podemos fazer é torcer e trabalhar para que nossa experiência continue valendo a pena e que faça valer cada dia de distância das coisas que mais amamos.